Automutilação é a prática de ferir a si mesmo, muitas vezes com cortes no braço, como uma forma de aliviar dor emocional. É muito preocupante, ainda mais quando se trata de adolescentes.
Se machucar nunca é a solução para os problemas, mas infelizmente muitos jovens buscam esse caminho. 😔
Este texto te ajudará a entender se está acontecendo aí na sua casa. Você aprenderá quais são os sinais, como reagir, e como conversar com o seu filho sobre o assunto.
E, se por acaso você é um adolescente, e encontrou esse texto no Google porque está sofrendo, quero te lembrar que:
Você não está sozinho ou sozinha. Suas dores são válidas e você pode curá-las. Lembre que você tem pessoas à sua volta te amam, se importam com você e querem te dar suporte.
Precisa de coragem para pedir ajuda, mas por favor, não hesite em conversar com um adulto em quem você confia, ou com algum profissional de saúde. Você merece ser feliz e tem muita gente disposta a te ajudar a isso.
Índice do post
O que é automutilação?
Automutilação é causar dor a si mesmo de forma intencional. Uma das formas mais comuns são os cortes no braço ou em outras partes do corpo.
A automutilação é uma forma de lidar com emoções complexas ou situações traumáticas. Normalmente, quem faz isso sente que não tem outra maneira de expressar seus sentimentos ou liberar o estresse. Mas se machucar não resolverá nenhum problema.
Muitas pessoas acham que automutilação é frescura, mas não é assim. É um assunto muito sério, que requer empatia e amor. Você precisa ouvir seus filhos, respeitar a dor deles, entender que o sofrimento deles é válido, e encaminhar para ajuda profissional.
Automutilação não é a solução para nenhum problema. Mas, também não é sinal de fraqueza, ou de falta de força de vontade. É uma resposta não-saudável a uma situação ruim. Existe ajuda disponível e ao seu alcance.
Como a automutilação acontece?
O comportamento de autoagressão pode se manifestar de muitas formas. Os pais precisam estar atentos a cortes, queimaduras, mordidas, arranhões, e puxões de cabelo.
Nem todo adolescente em sofrimento mostra sinais visíveis. Muitos escondem suas cicatrizes, ou se machucam em locais como coxas ou abdômen. Nesse caso, os pais precisam observar mudanças de comportamento, como tendência a se isolar, comportamento ansioso ou facilmente irritável.
Se notar mudanças na personalidade do seu filho, ou perceber um ferimento sem explicação, converse com ele. Não precisa ser diretamente sobre isso, mas pergunte se está tudo bem, se ele quer conversar, ou se precisa de ajuda com algo.
Quantos jovens se cortam?
Infelizmente, esse é um problema muito comum em todas as partes do mundo, como revela este estudo.
Segundo uma pesquisa de 2018 publicada pelo The New York Times, 1 a cada 4 meninas dos Estados Unidos tentaram se machucar nos últimos 12 meses. O número de meninos foi 1 a cada 10.
Não há dados atualizados sobre quantos jovens se cortam no Brasil, mas pesquisadores do Ministério da Saúde percebem um aumento de problemas de saúde mental em pessoas com menos de 18 anos.
As pesquisas informam ainda que jovens em alguma situação de vulnerabilidade ou que fazem parte de grupos minoritários estão mais propensos a riscos. População LGBTQIA+, migrantes e refugiados são exemplos mencionados pelo Ministério da Saúde.
Enquanto fazia a pesquisa para escrever este post, encontrei um dado que me impressionou: todos os meses, são feitas cerca de 10 mil pesquisas no Google sobre o assunto. 😥
Muitas pessoas pesquisam dicas de como fazer e como esconder dos pais. Se você é uma delas e caiu aqui:
Lembre que você nunca está sozinho. Várias pessoas em todo o mundo sofrem, mas se cortar não é a saída. Existem formas mais saudáveis de lidar com as frustrações.
Por que as pessoas se cortam no braço?
Não existe uma única resposta para essa pergunta. Adolescentes cometem automutilação ou fazem cortes no braço por várias razões. Estas são algumas:
- Lidar com a dor emocional: algumas pessoas podem sentir que a dor ajuda a lidar com estresse emocional e com sentimentos como tristeza, ansiedade ou raiva.
- Sensação de controle: sensação de controle sobre seus próprios corpos e sobre suas emoções.
- Comunicar sentimentos: às vezes, é uma forma de expressar para os outros que estão passando por alguma dificuldade.
- Lidar com trauma: a automutilação pode surgir como resposta a algum evento traumático, como agressões ou abusos.
- Baixa autoestima: ao se sentir inadequado, ou que não tem valor próprio, o adolescente pode se cortar como forma de “punição”.
- Problemas de saúde mental: depressão, ansiedade ou outras condições do tipo podem desencadear comportamentos de automutilação.
- Falta de suporte: a sensação de que não tem apoio dos amigos e da família pode levar um jovem a se automutilar.
Esses são apenas exemplos do que pode estar acontecendo. Apenas um profissional de saúde mental qualificado pode fazer o diagnóstico correto e indicar o melhor tratamento.
A automutilação não tem rosto, idade, ou classe social. É um comportamento que atinge pessoas com vidas muito diferentes, inclusive adultos.
Nunca é tarde para buscar ajuda. Existem formas saudáveis de lidar com as frustrações da vida, não importa qual seja a sua idade. Conversar com alguém não é sinal de fraqueza. Na verdade, é o contrário!
Cortes no braço estão relacionados com depressão?
Automutilação pode surgir como sintoma de depressão ou como mecanismo de defesa contra ela.
Algumas pessoas sentem que a dor física proporciona um alívio temporário da dor emocional, o que leva à sensação de controle sobre os próprios sentimentos. O problema é que a dor emocional tende a voltar logo, o que leva a um ciclo.
Os cortes no braço podem ser uma forma de comunicar a angústia. Em quadros depressivos, nem sempre é fácil explicar para os outros como você está se sentindo. Os cortes são uma prova definitiva de que a pessoa precisa de ajuda.
A relação entre depressão e automutilação é complexa e multifacetada. O ideal é buscar ajuda profissional para entender cada caso.
Como é a cicatriz de corte no braço?
Depende muito. Geralmente, são cicatrizes pequenas, finas e lineares. Elas tendem a ser mais numerosas em algumas partes do corpo, como nos antebraços e nas coxas. Depois de um tempo, as cicatrizes ficam descoloridas.
Mas nem todas as pessoas que cometem automutilação têm cicatrizes visíveis.
O que fazer nessa situação?
Se você suspeita (ou já descobriu) que seu filho ou filha está passando por problemas, o primeiro passo é conversar.
Nunca é uma conversa fácil. Seu filho ou filha pode sentir vergonha, ou tentar esconder até o último minuto. Por isso, tenha sensibilidade e não julgue. Encoraje a falar sobre os seus sentimentos e ofereça apoio.
Você precisará de empatia durante todo o tempo. Lembre que ser adolescente não é fácil. E é ainda mais difícil quando você precisa lidar com algum problema de saúde mental.
Se você não entende muito sobre esses assuntos, recomendo ler esses textos aqui do blog:
- Com quantos anos começa a adolescência?: é um post com várias informações sobre essa fase. Fala sobre as mudanças de idade, porque é uma fase difícil, e como lidar com ela.
- Como contar para os pais que tenho ansiedade?: esse post te ajudará a entender o ponto de vista de um adolescente sobre ansiedade – inclusive o medo de não ser levado a sério.
- Minha mãe me deprime. E agora?: é um post para ajudar adolescentes que tem pais muito rigorosos ou tóxicos.
👇 Agora, veja algumas dicas de como conduzir a primeira conversa:
- Não eleve a voz. Mostre preocupação, e não raiva.
- Estimule seu filho ou filha a desabafar.
- Ouça com atenção, sem interromper, ou tentar diminuir a dor.
- Não fale que “não é nada”, “vai passar”, ou coisas do tipo. Se for aconselhar, dê conselhos construtivos.
- Tente entender os motivos do seu filho ou filha para se cortar.
- Ajude seu filho a encontrar outros mecanismos e atividades para lidar com estresse. Pode ser atividade física, ler um livro, sair de casa para passear, ou vir conversar com você.
- Remova objetos que seu filho possa estar usando para se machucar.
- Crie um ambiente de comunicação aberta em casa. Faça seu filho ter certeza de que você está sempre disponível para ouvir.
- Se precisar, converse com seu filho ou filha sobre os seus próprios sentimentos também. Assim você mostra que se abrir não é sinal de vulnerabilidade, e sim de confiança.
- Depois da conversa, busque ajuda profissional.
A partir dessa conversa, você entenderá melhor o que se passa na cabeça do seu filho e poderá buscar ajuda. Comunicação é sempre o primeiro passo.
Vale lembrar que a comunicação aberta precisa acontecer durante todo o tempo, não só no momento da descoberta. É importante acompanhar o desenvolvimento do seu filho ou filha.
E, se você acha que seu filho ou filha está com frescura…
Você não poderia estar mais enganado!
Talvez você seja de uma geração em que não se falava sobre saúde mental. Ou, quando falava, era com algum preconceito.
“É falta de um tapa”, “faz algo da vida que passa”, e “quem tem problemas sou eu, que tenho que trabalhar tanto pra sustentar essa casa” são fases clássicas desse período. E todas estão erradas!
Bater ou gritar só aumenta a dor emocional, que é justamente a causa do comportamento destrutivo.
Busque ajuda profissional
Essa é a única forma de entender completamente o que está acontecendo, quais são as causas, e quais são os próximos passos. Pode ser com psicólogo ou algum médico – se for o caso, eles indicarão o profissional mais indicado.
Se puder, marque consulta particular, para não perder tempo. Mas, se não puder, vá a algum serviço público de saúde, marque consulta e peça a indicação.
E, se você é adolescente e está lendo até aqui, tenho um último recado:
A sua dor não te define. Você é muito mais do que seus pensamentos ruins. Você merece amor, felicidade, carinho, e tem um futuro brilhante em frente. Converse com alguém que você confia e saiba que existem recursos para te ajudar a superar os seus desafios.
Você é forte, capaz, e merece o melhor. Continua lutando, um dia de cada vez, e você verá que não está sozinho ou sozinha.
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