Criança concentrada jogando videogame

Transtorno de tela: o que é e como combatê-lo?

Algumas pessoas consideram o transtorno de tela a “doença do século XXI”. Ela é a dependência da tecnologia, aquela vontade de ficar no computador ou no celular o dia inteiro, sem conseguir ficar desconectado por muito tempo.

Nem precisa dizer que isso é péssimo para a saúde, né? Gera estresse, ansiedade, dificuldades de relacionamento, insônia, e vários problemas decorrentes de sedentarismo.

Acontece isso na sua casa? Se você sente que as crianças passam tempo demais na frente das telas, fazem birra na hora de sair, e não conseguem se divertir sem os eletrônicos, precisa fazer um “detox” das telas.

É difícil, ainda mais em um mundo em que crianças e adolescentes usam tablets até na escola, mas quando afeta a saúde, você precisa intervir e substituir as telas por atividades mais saudáveis. Não adianta proibir – tem que educar, diminuir o uso de telas e apresentar várias opções para a criança.

É cansativo, mas o resultado vale muito a pena: é uma infância mais alegre, completa e saudável. 🥰 

O que é transtorno de tela?

Transtorno de tela é o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, que resulta em efeitos negativos na saúde. É uma compulsão em usar as telas, que não passa mesmo quando a pessoa percebe as consequências. A pessoa simplesmente não consegue parar!

Pode ser vício em qualquer tipo de tela, como celular, tablet, televisão, computador ou videogame. Ou até em aplicativos específicos, como redes sociais ou jogos online.

Os efeitos negativos do transtorno de tela variam muito, mas afetam várias áreas da vida. São prejuízos à saúde física, mental, afeta a vida social, o desempenho acadêmico e pode prejudicar até a carreira.

Agora, um detalhe importante: só é considerado transtorno de tela se realmente houver consequências negativas. Tem pessoas que usam telas várias horas ao dia sem viciar.

O ideal é não correr o risco de deixar uma criança e adolescente usando eletrônicos por muito tempo. Mas, se o seu filho já usa e não demonstra problemas que podem estar relacionados, dificilmente ele tem o transtorno. Na verdade, ele acontece com a minoria das pessoas.

Pare para pensar: existem muitos adultos que passam o dia usando computadores no trabalho. Quando termina, eles conseguem desligar e curtir a vida normalmente, mesmo ficando várias horas grudado na tela. Com as crianças e adolescentes é parecido – mas os impactos negativos das telas são maiores para eles, pois ainda estão em formação.

Criança se divertindo jogando no celular, com computador gamer ligado no fundo

O que o excesso de tela pode causar nas crianças?

O transtorno de tela é problemático porque as crianças precisam de diversos estímulos diferentes. As telas, aplicativos e jogos não podem oferecer todos (e oferecem alguns TIPOS em excesso).

Alguns problemas comuns relacionados ao uso excessivo de telas incluem:

  • Problemas em habilidades como atenção, memória e pensamento crítico.
  • Reduz tempo de outras atividades, como leitura ou exploração do mundo (através de brincadeiras, experiências científicas, entre outros).
  • Promove um estilo de vida sedentário, o que pode contribuir para obesidade infantil, distúrbios do sono e dores no corpo.
  • Fadiga visual e dores nas costas e pescoço.

Nem toda criança que usa muito as telas sofrerá estas consequências. Além disso, algumas são mais relacionadas a certos tipos de tecnologia. Por exemplo, jogos online podem causar estresse por causa da interação com outros jogadores.

O transtorno de tela não é como um resfriado, que tem sintomas específicos e fáceis de identificar. Você precisa acompanhar a rotina dos filhos para descobrir se as telas estão causando problemas, e quais são.

Se você precisa de um apoio nisso, o Tomo dos Pais pode te ajudar. É uma newsletter com diversas opções de conteúdo para crianças e adolescentes: dicas de passeios, atividades ao ar livre, experiências, e muito mais! Tudo isso te ajudará a oferecer melhores opções de lazer para seus filhos.

Por que as telas viciam?

Seu filho não passa tanto tempo na frente das telas por ser preguiçoso. Na verdade, os conteúdos que ele consome foram feitos para viciar.

Além disso, sempre tem algo novo acontecendo. Uma fase nova do jogo, um comentário novo em um post no Instagram, outro vídeo engraçado no Tiktok…

E, acredite: SEMPRE tem algo novo para a criança ou o adolescente ver. Na minha época, jogos eram só em fitas ou comprando CD pirata. Tinha que assistir os filmes que passavam na Sessão da Tarde, e só conversava com os amigos pessoalmente ou por telefone.

Agora é o contrário! Isso tudo toma tempo até dos adultos, imagine das crianças, que se deixam levar mais facilmente pelos estímulos.

tempo de tela na infância: criança usando celular para jogar

👇 Estes são alguns dos mecanismos que tornam as telas tão viciantes:

  • Satisfação instantânea: tudo é projetado para oferecer gratificação na hora. Receber uma notificação nova, alguém curtir sua foto, deixar um comentário, ou você ganhar uma partida. A satisfação é instantânea e imediata, que estimula a repetir o comportamento.
  • Excesso de estímulos: as telas oferecem vários estímulos visuais e sonoros que chamam a atenção e tornam a experiência mais imersiva, especialmente para as crianças.
  • Recompensa variável: alguns bônus dependem do engajamento do jogador. Por exemplo, receber itens se tiver uma partida todos os dias.
  • Conexão social: essa vale principalmente para redes sociais. Elas permitem interações sociais constantes, com os amigos e com pessoas que não fazem do círculo social, como um primo que mora em outra cidade ou um amigo de outro estado.
  • Alívio: as telas são uma fuga da pressão da vida real, em especial para adolescentes. Alguns adultos podem achar bobo, mas adolescentes passam por muita pressão! Precisam escolher uma carreira, estudar para provas muito difíceis, encontrar a própria identidade, e por aí vai. O ambiente online é mais “controlado” nesse sentido.

De certa forma, tudo isso está relacionado com o excesso. Tudo nos eletrônicos é excessivo, como o tempo de tela, ou a quantidade de estímulos e informação.

Isso desregula a dopamina do cérebro. A dopamina é um mensageiro que causa sensação de felicidade e satisfação. Usar as telas libera muita dopamina de forma praticamente imediata. O cérebro vicia na sensação e sempre quer mais. Por isso as telas causam vício e fica tão difícil sair da frente delas.

O vídeo abaixo, da BBC, explica como funciona 👇

Como é o tratamento de transtorno de tela?

O tratamento trabalha diferentes maneiras de reduzir o tempo de tela. Não basta proibir o videogame, esconder o celular, ou qualquer coisa do tipo.

Se você fizer isso, seu filho ficará igual no vídeo abaixo: sem usar telas, mas sem ir com a sua cara também. 😅 

E provavelmente usando o celular ou computador quando você não estiver vendo.

As melhores abordagens são:

  • Conscientizar: conversar com seu filho sobre o problema e pensar em estratégias conjuntas. Existem até formas dele próprio diminuir o tempo de tela, sabia?
  • Estabelecer limites: definir juntos quantas horas podem usar no dia e de qual maneira usar. Definir castigos se passar o tempo, ou recompensas se houver avanços.
  • Terapia comportamental: se chegar ao ponto de transtorno de tela, é interessante conversar com um psicólogo para entender a fundo quais são as causas, medir os impactos da exposição às telas e desenvolver estratégias para reduzir o uso.
  • Promover outras atividades: não adianta nada mandar seu filho desligar o videogame e “ir brincar lá fora”. Tem que dar opções divertidas para ele! Pode ser jogar bola, sair para passear, aprender a fazer mágica, treinar uma manobra de bicicleta, qualquer coisa. Ajude-o a descobrir atividades prazerosas.
  • Suporte da família: é complicado tratar transtorno de tela se a família inteira usa celular toda hora, né? Crie espaços e horários sem uso de eletrônicos para toda a família.
  • Retirada total das telas: só em últimos casos e sempre com acompanhamento. Deixe um tempo sem e depois vá reintroduzindo aos poucos.

Como fazer o “desmame de telas”?

Desmame ou detox de tela é um processo gradativo para reduzir o uso de eletrônicos. Você vai aos poucos reduzindo o tempo até a criança ficar confortável para equilibrar a rotina offline e online.

Depende de vários fatores para dar certo e não existe forma única de fazer. Veja abaixo uma das estratégias:

  1. Converse com seu filho sobre o que ele faz online e descubra o que toma mais tempo.
  2. Estabeleça uma meta de tempo de tela ideal para uso dos dispositivos, junto com o seu filho.
  3. Comece a reduzir diariamente o tempo até chegar a essa meta. Pode ser 30 minutos ou 1 hora por dia, a cada 3 dias. 
  4. Substitua esse tempo que ele estaria na frente da tela por alguma atividade prazerosa. Pode ser esportes, passear ou aprender alguma nova habilidade. Teste várias opções até descobrirem do que ele gosta mais.
  5. Faça regras para usar as telas em casa. Por exemplo, não usar quando almoça ou janta com a família, nem na hora de fazer as atividades da escola.
  6. Estabeleçam as consequências de quebrar estas regras. Pode ser um castigo como ajudar em uma tarefa de casa a mais ou passar menos tempo na frente do computador.
  7. Acolha nos momentos difíceis. Vai ter birra, vai ter choro, mas não ceda. Explique que sair das telas bem, aprenda a lidar com a raiva, e mantenha-se firme nos limites que vocês definiram juntos.
  8. Faça ajustes regularmente, de acordo com o avanço do seu filho. Pode ser liberar um pouquinho a mais de tela se ele for bem na escola, ou deixar jogar online de madrugada nos finais de semana. Só faça isso quando estiver realmente sob controle.

E, assim como muitas coisas na criação dos filhos: tenha paciência! 

Se quiser aprender mais sobre o assunto e mais estratégias para tirar seu filho da frente das telas, escrevemos um e-book focado nisso: